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Greve de Fome Mapuche

Posted by Parcos Maulo Marcadores:



Repúdio à ação genocida do governo do Chile

Notícia: 06/10/2010




- Greve de Fome de Presos Políticos Mapuche Completa 78 Dias -


  1. O Movimento Indígena Revolucionário, apoiado pelo CESAC (Centro de  Etnoconhecimento Sócioambiental e Cultural Cauieré), pela Associação Pankararu Raiz da Serra, pelo Conselho Nacional de Direito Indígena (CNDI), pelo American Indian Movement (AIM) e pelos ocupantes do Antigo Museu do Índio (RJ), organizados no Instituto Tamoio dos Povos Originários, repudiam violentamente a tentativa de ASSASSINATO COLETIVO por parte do Presidente Criminoso da República do Chile, Sebastian Piñera, contra os 35 presos políticos de etnia Mapuche em Greve de Fome desde 12 de julho de 2010.
  2. No dia 17 de setembro de 2010, às vésperas do Bicentenário do Chile, quando a Greve de Fome completava 67 dias, já estando os manifestantes em estado crítico de saúde, com dois prisioneiros correndo sério risco de vida, o presidente da República do Chile anunciou a reunião com os representantes das comunidades Mapuche, exigência dos militantespresos, para depois das festividades nacionais, ou seja, para semana seguinte, o que pode configurar-se em uma tentativa de ASSASSINATO COLETIVO por parte do Governo Chileno, apoiado pelo silêncio criminoso da mídia corporativa internacional, incluindo a brasileira, contra os militantes indígenas.
  3. Segundo o médico e parlamentar Enrique Accorsi, depois de 80 dias sem alimentação, se produzem danos irreversíveis em órgãos como fígado e rins, assim como, nos sistemas endócrino e imunológico, além de dano cerebral. A Suprema Corte do Chile ratificou por unanimidade a sentença da Corte de Apelações de Concepción, autorizando alimentação à força por parte do Serviço Penitenciário. O protesto pode se radicalizar em greve líquida, o que aumenta a possibilidade de óbitos, com o governo do Chile ainda se recusando a negociar as demandas daqueles  que fazem greve de fome.
  4. Representando 6,6% da população chilena (no total, contando com pouco mais de 16 milhões de habitantes), os Mapuche estão hoje com 106 irmãos e irmãs encarcerados por crimes políticos. Desses, 35 mantendo Greve de Fome e 32 completando hoje 75 dias de total inanição. A greve começou nas prisões das cidades de Temuco e Concepción - exigindo revisão da Lei Antiterrorismo, com fim dos processos duplos na justiça civil e militar, a desmilitarização das comunidades indígenas, a devolução do Território Mapuche, com garantias de autonomia e livre determinação, e liberdade para os presos políticos indígenas -, logo ganhando adesão dos PPM (Preso Político Mapuche) de Angol, Valdivia e Lebu. 
  5. Menores de idade Mapuche encarcerados entraram em Greve de Fome no dia 1º de setembro, denunciando maus tratos e tortura, informando que não têm autorização para entrada de comida saudável na detenção - sendo o cardápio fornecido pela administração carcerária uma forma de enfraquecer a luta dos menores detidos. No dia 10 de setembro, quatro parlamentares chilenos de esquerda aderiram à Greve de Fome Mapuche e 34 parlamentares europeus exigiram do presidente Piñera solução imediata para o conflito. No dia 14 de setembro, representantes de movimentos sociais, estudantis, de direitos humanos e da classe artística chilenos, incluindo o poeta Nicanor Parra, aderiram ao protesto, abdicando da alimentação e exigindo o fim da Lei Antiterrorista, devolução do Território Mapuche - com a desmilitarização completa das comunidades - e a libertação dos presos políticos.
  6. A Legislação Antiterrorismo, promulgada na Era Pinochet (1973-1990) e indo contra qualquer preceito jurídico que norteiam as Leis Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos (o que é, curiosamente, esquecido por jornais como O Globo, cúmplices criminosos da política de invisibilidade da questão Mapuche, louvando o crescimento econômico do país vizinho, sob suposto Estado de Direito desde os anos 90 do século passado), prevendo julgamentos duplos, em tribunais civis e militares, invertendo o princípio de presunção de inocência, ao autorizar a prisão de suspeitos sem qualquer tipo de provas, permitindo o interrogatório e a prisão de crianças, acatando investigações secretas e acusações sem necessidade de que as testemunhas se apresentem em juízo (testemunhos sem rosto) e criminalizando todo um povo originário que, pela lei, passa a ser considerado como “inimigo perigoso da sociedade”. 
  7. A intenção do ditador Pinochet era, como ficou explicitado no próprio decreto-lei, estabelecer que “uma vez liquidado o conceito de comunidade, deixariam de ser terras indígenas, e indígenas os seus habitantes”, abrindo caminho para o grande latifúndio e para as multinacionais da mineração, da celulose e da energia elétrica, sangrando 95% do Território Mapuche com auxílio de uma política de etnocídio “integracionista” de um lado e da brutalidade policial de outro. Os governos “democráticos” do Chile, mesmo os da dita “Concertação”, acharam conveniente manter a opressão aos indígenas e o anacronismo da Lei para sustentar o “crescimento econômico invejável”, mantendo o alto IDH da sociedade envolvente e financiando o elevado padrão de consumo da mesma (e os votos decorrentes).
  8. O anúncio do presidente Piñera, postergando a reunião com as lideranças Mapuche e afirmando, de antemão, que “não se discutirão as demandas daqueles em greve de fome”, foi feito por ocasião do hasteamento da bandeira no Palácio la Moneda diante de quatro presidentes antecessores, igualmente genocidas (todos os presidentes, desde Pinochet, usaram largamente a nefasta Lei Antiterrorismo contra os Povos Originários do Chile; todos, indiscriminadamente, prenderam, torturaram, exilaram e assassinaram indígenas). A presidente do Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile, Lorena Fries, advertiu que a qualquer momento pode haver um desenlace fatal para o protesto dos PPM, temendo o pior.
  9. Eduardo Painemil, um dos heróis PPMs, foi operado às pressas quando a greve completou 74 dias - correndo ainda sério risco de vida - e outros nove companheiros já foram transferidos para hospitais em estado grave. Entre os reféns indígenas seqüestrados pelas ações de Terrorismo de Estado da República Democrática do Chile estão estudantes, pequenos agricultores, lideranças comunitárias, pais e mães de família, além de idosas e idosos (ver as famílias cercadas e a prisão das mães e
  10. avós Mapuche - entre outros militantes indígenas, alguns deles hoje Heróis PPMs em situação de enfrentamento dentro do sistema prisional - encarceradas pela Ignomínia de Estado e enquadradas na Lei Antiterrorismo, em benefício do Grande Capital - que explora uma das Monoculturas da Morte, o eucalipto, em Terras Indígenas http://www.youtube.com/watch?v=-7pa4PtxPEs&feature=related).
  11. Após o primeiro exército profissional do Continente reconhecer o Povo Mapuche como Nação, demarcando o Rio Bio-Bio como fronteira do País Indígena, tendo o poema épico La Araucana - dedicado ao Rei Felipe II, relatando a luta dos soldados espanhóis e a resistência brava e altiva dos guerreiros Mapuche (“araucanos”) na Guerra de Arauco - marcado o nascimento do país de forte tradição militar, os Mapuche originários protagonizam 300 anos de resistência contra o Genocídio de Estado Chileno e a Institucionalização da Expropriação e do Extermínio pelos sucessivos governos (ver ação de Terrorismo de Estado, praticado pela República do Chile, contra civis Mapuche, com sete crianças feridas, in: http://www.youtube.com/watch?v=NZGjEBVltAg&feature=related e a resistência da Aliança Territorial, enfrentando um ataque policial sustentado por tiros de borracha e gás lacrimogênio, em outubro de 2009 http://www.youtube.com/watch?v=mSc9yluxkxY&feature=related).
  12. A juventude Mapuche está sendo atualmente exterminada pelo Terrorismo Estatal e Para-Estatal, a serviço de interesses pecuniários e mesquinhos travestidos de “razões de Estado”; não apenas jovens Mapuche são assassinados em Arauco, lideres de outras etnias estão sendo também constantemente eliminados em solo chileno, como Maurício e Augustina Pewentre, que, lutando contra o alagamento de 22 mil hectares Pewentre para instalação de sete centrais elétricas foram abatidos a tiros em novembro de 2009. 
  13. O governo chileno, quando não se serve de estruturas para-institucionais, vem utilizando o aparelho policial e repressivo para prender, agredir, coagir, intimidar e, ocasionalmente, assassinar a resistência indígena, tendo sido as crianças e idosos as maiores vítimas da brutalidade policial hoje. É hora dos indígenas de todo o Brasil - que ainda suportam os efeitos do decreto 7056/09 e, apesar da Constituição Cidadã de 1988, sofrem duramente a repressão aos protestos contra as medidas de extermínio do governo brasileiro - apoiarem a luta dos Parentes que sofrem no país vizinho.
  14. O Movimento Indígena Revolucionário apóia a luta do Povo Mapuche, organizado na Aliança Territorial, e a resistência heróica dos PPM, repudiando a ação criminosa da mídia corporativa, cobrindo com o manto da invisibilidade as violações aos Direitos Humanos no Chile para festejar um desenvolvimento econômico calcado no genocídio e no etnocídio.
  15. O Movimento Indígena Revolucionário lembra ainda que as etnias indígenas do Brasil devem estar atentas com as manobras do Governo Federal, tão criminoso quanto o chileno, assim como, as da próxima gestão petista, que tende a acentuar o processo de eliminação dos Direitos Indígenas - e que, caso sejam votadas no Senado as leis que regulamentam a instalação de bases policiais e militares e a lei de mineração em Terras Indígenas, como nos foi alertado por representantes Mapuche em visita ao Acampamento Indígena Revolucionário (AIR), em julho corrente, a situação aqui no país pode ir de mal a pior, como acontece hoje além das fronteiras do Bio-Bio.
  16. O Movimento Indígena Revolucionário, apoiado pelo Centro de Etnoconhecimento Sócioambiental e Cultural Cauieré (CESAC), o Instituto Tamoio dos Povos Originários e o American Indian Movement (AIM), pede aos apoiadores e militantes brasileiros, indígenas ou não, que pressionem as autoridades chilenas a atenderem as reivindicações dos PPMs escrevendo, congestionando os ramais telefônicos, se manifestando com vigor na embaixada e nos consulados da República do Chile existentes no país.

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